Atualmente há um nítido afastamento entre a academia e o mercado. Um dos motivos é porque a academia foi concebida para formar mão de obra qualificada para estruturas e demandas de mercado que já são passado. Devido às estruturas burocráticas e às dificuldades inerentes da atividade é difícil para o setor acadêmico seguir a dinâmica do mercado, o que na verdade já tem sido difícil para muitas empresas.
A inovação tem passado de um fator diferenciador para um elemento estratégico e elementar que deve estar enraizado na cultura da organização. A Inovação e a pesquisa possuem uma natureza intrínseca, que pode ser descrita da seguinte forma:
“Pesquisa é transformar dinheiro em conhecimento; Inovação é transformar conhecimento em dinheiro.“
Essa frase é geralmente atributa ao Dr. Geoff Nicholson, inventor do post-it e antigo executivo da 3M. Analisando tais afirmativas pode-se, meio que erroneamente, inferir que o caminho da inovação pode ser separado do caminho da pesquisa, porém com uma análise um pouco mais atenta, pode-se perceber que os inputs para inovação vêm da pesquisa.
Isso corrobora com a célebre frase “dados valem mais que petróleo”, mas apenas dados assim como petróleo bruto, são commodities. O dever das empresas com seus profissionais é transformar esta “matéria prima” em produtos de alto valor agregado, para atender a necessidade de clientes, colaboradores, fornecedores.
A pesquisa nem sempre está focada em inovação, mas sempre na geração de conhecimento. O conhecimento gerado por muitas pesquisas, principalmente as de ciência básica, que buscam ampliar o conhecimento em determinada área, muitas vezes, só irá resultar em aplicações práticas depois de algumas décadas. Caracterizando-se como o alicerce, enquanto a inovação é a cobertura. Contudo a pesquisa em si não cuida apenas do alicerce, mas de todo o prédio e de sua gestão.
Um dos conceitos de inovação bastante interessante e objetivo é:
Inovação = Implementação + Resultado (resultado positivo, por favor!)
ou seja, a partir de determinado conhecimento se implementa uma melhoria ou solução com o intuito de trazer um resultado positivo, uma melhora em desempenho, mais eficiência, eficácia, Resultados.
Em uma análise direta é possível perceber que para ter inovação será necessário um conhecimento, a partir dele uma implementação com o intuito de se gerar resultados. Logo o que alimenta a inovação é o que resulta da pesquisa.
A adoção sistemática da metodologia científica modificou profundamente a sociedade, permeando o desenvolvimento de tecnologias que moldaram, moldam e moldarão a sociedade.
Apesar de muitas vezes fazerem isso de forma velada, sem mesmo saberem, empresas na verdade estão utilizando basicamente metodologia científica, para desenvolverem inovações em produtos, serviços, relações com clientes, modelos de negócios.
Apesar de no Brasil, a pesquisa ser ligada majoritariamente as instituições de ensino, cada vez mais as empresas devem ser proativas no que tange a Pesquisa e o Desenvolvimento de soluções para a concretização de suas visões de negócios ou mesmo de sua sobrevivência.
Em síntese, o que o mercado mais busca hoje é inovação, para melhorar produtos, serviços, modelos de negócios…
Enquanto a academia se encarrega de formação de profissionais e pesquisa. Pesquisa para gerar conhecimento, conhecimento que quando aplicado pode gerar inovação. Logo não devemos enxergar como Mercado vs Academia e sim, Mercado e Academia, e essa relação ainda é pouco explorada, principalmente no Brasil.
Então, apesar de conceito como a metodologia científica serem ensinados na academia e mesmo que indiretamente utilizados nas empresas, Por que há um certo afastamento entre ambos?
Não seria apenas pegar profissionais qualificados e ao invés de gerar conhecimento “setar” suas habilidade e qualificações para geração de inovações, oportunidades de negócios e fluxo de caixa?
Uma das questões é que cada vez mais as hard skills dos profissionais não são fatores diferenciadores, pelo menos se não vierem acompanhadas de habilidades complementares, soft skills que auxiliem na geração de resultados.
No excelente livro, “O Que Eles não te Ensinam da Faculdade: as 10 habilidades que todo o negócio exige“, os autores Daniel Scott e Matheus Santiago, elencam, as seguintes habilidades essenciais para serem desenvolvidas :
- Trabalho em equipe;
- Resolução de problemas;
- Empatia;
- Senso de dono;
- Foco no cliente;
- Pensamento Crítico;
- Inteligência Emocional;
- Comunicação;
- Criatividade;
- Flexibilidade cognitiva.
Grandes profissionais, no geral, desenvolvem estas habilidade e grandes empresas promovem o desenvolvimento de tais habilidades em suas equipes, que para alguns meios acadêmicos ainda são deixados em segundo plano nas matrizes curriculares. Contudo, grande mestres incentivam, mesmo que indiretamente o desenvolvimento delas.
Mas no final do dia é nosso dever como profissionais assumir a responsabilidade de nos aprimorarmos em todos esses aspectos e como líderes ou mesmo liderados, auxiliar nossos colegas e parceiros de trabalho nessa jornada.
Dessa forma, bons cursos superiores devem formar profissionais que além de um background técnico com hard skills referentes a sua profissão também devem ter flexibilidade e criatividade para lidar com os desafios para atingir os resultados. Mesmo com objetivos e dinâmicas diferentes é disso que o mercado ou academia precisam em seus profissionais.
Durante minha graduação, o grande Prof. Dr. David C. Sena fez eu e meus colegas de turma decoramos, na verdade incorporarmos o que nós como Engenheiros estávamos sendo formados para fazer:
“Resolver problemas não estruturados, sob pressão… com excelência“
Contudo, essa frase serve para maioria das profissões hoje, em um mundo dinâmico cujo a única constante é incerteza, se é incerto é não estruturado, e a agilidade necessária para gerar resultados, está um passo a frente ou pelo menos no mesmo passo que sua concorrência gera a pressão. Por sua vez, a Excelência deve ser um valor, um princípio.